quarta-feira, 5 de agosto de 2015

240 dias

     Ainda fazia frio, mas o sol era tão intenso que se perguntava: "o frio é só meu?". Foram 240 dias que simplesmente passaram e continuariam passando. 
    Era tudo automático: acordar, comer, estudar, trabalhar, dormir. Sempre igual. Na verdade, as vezes acontecia algo diferente, mas na maioria dos dias a história se repetia. Talvez por sua própria escolha, talvez por seu cansaço e falta de vontade de escolher diferente, afinal "as vezes a vida não é tão legal com a gente e a gente não é obrigado a ser tão legal com ela", dizia.
   Foram dias de extremo sofrimento, um sofrimento que ninguém via, apenas ela, com sua linda capacidade de se recompor facilmente, rindo das situações. 
    Com o tempo, descobriu que rir não mudava o que sentia. Decidiu fugir, encontrou alguns prazeres proibidos, mas era a única coisa que fazia-a sentir viva de novo. Porém, isso a destruía mais, voltava a estaca zero. Na verdade, agora estava no -1. Sentia-se culpada, suja e desmerecedora.
   Então decidiu viajar. Foi a coisa mais importante que fez a si próprio, pois foi obrigada a se conhecer, a sentir tudo mais claro e forte dentro de si. E todos os seus passos confirmavam sua decisão. Foi e fez. Fez de uma maneira tão pura e bonita que não entendia: Por que era tão proibido sentir-se bem? Tinha acabado de se encontrar e ao mesmo tempo, se perdera em um mundo sem volta.


    Era uma mistura de prazer e dor. Não demorou muito, decidiu voltar atrás. Sentia-se culpada de sentir-se feliz. Entrou em paranóia com os seus valores e princípios divinos. Mas algo a puxava e era impossível parar de pensar na vida que outrora tivera.
  Foi uma busca incessante por liberdade. Tentava retratar os mal feitos. O tratamento não estava ajudando tanto... Não importava o que sua razão era treinada a pensar, o sentimento mostrava que o caminho era outro. Estava viciada. Entregou-se. Mergulhou nessa loucura que era tão forte que a fazia esquecer de tudo.
   Um belo dia, sóbria, descobriu que pela primeira vez estava em paz. O errado não era mais tão errado assim. Quem criou essa lei? Mudou-se a lei. Agora ela era a sua própria lei. Agora era feliz. O errado virou certo.
  Iniciou-se assim um novo tempo. Tempo em que sabia exatamente que nada iria magoa-la novamente. Tempo de sentir-se viva. Voltou a ser criança sem saber. Ser feliz era tão fácil e natural. Renascia. Não era mais dependente. Era novamente uma pessoa. Apaixonada pela vida.

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